Michèle Sato
Professora do Instituto de Educação da UFMT
Fortes esperanças foram depositadas
para este século 21, com propostas de agendas, guinadas conceituais, vivências
exitosas ou a busca da luz do fim do túnel, já que para muitos, havíamos
atingido o fundo do poço com o esgotamento dos paradigmas da Modernidade. Contudo,
continuamos vivendo um período conturbado, com discórdias entre judeus e
palestinos, desacordos na Síria, ou conflitos na Grécia, entre outros dilemas
internacionais. Mesmo com o florescer da primavera árabe, Paris foi tida como a
“capital do mundo”, desfilandonegligência na política de migração.
Privilegiou-se a colonização e o controle sobre os países vulneráveis, com
horrores quepareciam ser inevitáveis. O contexto da liberdade de expressão
dividiu as opiniões e muitos argumentaram “Jene suis pas Charlie”, em protesto à
política de migração da Europa, e não somente na França.
De golpe em golpe, assistimos
recentemente cerca de duas milhões de pessoas nas ruasbrasileiras (março 2016),
que sob a metáfora da corrupção, reivindicavam a “ordem e o progresso” na
tutela do militarismo. Não se pode negar a força do movimento, ainda que seja
bastante difícil compreendê-la, muito menos defendê-la. Neste mesmo período, testemunhamos
o pior prejuízo socioambiental no cenário brasileiro, quando a barragem da
Samarco arrebentou não só os estados de Minas Gerais e Espírito Santo, mas
todas as bordas e não-bordas de um dramático dilema socioambiental sem
fronteiras.
Neste momento de esgotamento dos
paradigmas e de catástrofes socioambientais na humanidade, a Universidade
Federal de Mato Grosso (UFMT) não é uma ilha isolada de um continente em crise,
mas recebe, e também emite, os reflexos da civilização e da barbárie.
A fase atual é demarcada pela
política eleitoral que vai decidir os rumos da governança num período de 4
anos. O próximo reitor deverá ter profundas vivências no âmbito local e simultaneamente
internacional, articulando saberes, conjugando cenários que consigam traduzir
as necessidades locais de uma universidade frente aos desafios do século. De
graduação, pós-graduação, docência, vivência comunitária e investigação
científica, a academia deve romper com o binarismo do “ou isso ou aquilo”,
ousando a sensata política de uma universidade capaz de produzir saberes, mas
que também consiga respeitar a existência de outros saberes.
O cartesianismo orienta a
dualidade, mas é inegável que o papel da universidade é “isso e também aquilo”,
da produção das ciências com qualidade, que consiga promover a inclusão social.
Da pesquisa ética que considere as lutas sociais, da docência engajada que não fuja
da realidade, mas sobremaneira, que acate um currículo diversificado e
fenomenológico. É necessário desenhar uma política de inclusão social que não
se limite aos projetos do governo federal, mas que também crie e recrie as
políticas de inclusão dos grupos vulneráveis. E também é preciso incentivar os
projetos da educação popular, das vivências de extensão e das conexões com os
movimentos sociais no exterior da UFMT.
Necessitamos de reflexão acadêmica,
que consiga subsidiar nossos pensamentos, ações e sensações. Não se trata de
remeter ao positivismo e a resolução de problemas, mas essencialmente de
compreender o momento que nos absorve. E para isso, é preciso romper com a
falsa dualidade entre as ciências e a justiça social, assumindo que nenhum
sujeito é neutro à construção de uma universidade tecida em múltiplas dimensões.
Portanto, meu voto pertence à CHAPA 2, com Paulo Teixeira e Sérgio
Allemand, porque conseguem responder aos desafios de uma era, e é vital
compreender o que estamos vivenciando, refletindo as ações de mudanças para que
a ética consiga ser vitoriosa sobre os destinos da vida por meio de um
esperançoso devir.
CHAPA 2!
Com Paulo Teixeira e Sergio
Allemand.
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